Como os alunos se sentem quando erram em atividades avaliativas?
"Eu me sinto mal porque eu sei que eu estou errada, e muito triste." (11 anos, 6ª série)
Raiva e tristeza (12 anos, 6ª série)
"Meu sentimento é de decepção." (17 anos, 6ª série)
"Preocupado se a mãe vai brigar." (12 anos, 6ª série)
"Quando eu erro um exercício ou uma atividade avaliativa, eu fico pensando que eu vou estudar e estudar e vou conseguir acertar da próxima vez e quando vejo eu consegui acertar, e eu não fico feliz e nem triste, eu só fico pensativo com isso, e eu mesmo insisto em estudar e isso é tudo. Eu penso que sou burra." (11 anos, 6ª série)
"Eu não me sinto bem por saber que meu esforço não é o suficiente, mas também me motiva a melhorar." (16 anos, 9º ano)
"Eu me sinto triste ou desanimado, por conta de que eu poderia ter o risco de reprovar, e isso pode afetar o meu futuro em algum trabalho." (14 anos, 9º ano)
"Me sinto com ansiedade, com raiva, porém não desisto, me dá mais vontade de ir atrás, mesmo com nervosismo." (14 anos, 9º ano)
"Me sinto inútil, mais uma falha, como estudante e como pessoa, mais uma decepção e fico preocupada com o meu futuro." (14 anos, 9º ano)
"Me sinto envergonhada e com muita vontade de chorar, e bastante nervosa" (14 anos, 9º ano)
"Sinto uma pequena forma de derrota, mas também uma sensação de que com o erro cometido, há a oportunidade de acertar outra vez..."
Essa foi a pergunta que o então estudante universitário Rodrigo de Melo Torres fez em seu trabalho de conclusão de curso de licenciatura. Em uma pesquisa de campo em uma unidade escolar, os estudantes foram orientados a desenharem e escreverem sobre seus sentimentos.
A pesquisa foi realizada em uma escola estadual com turmas do Ensino Fundamental II. O objetivo era avaliar como os alunos se sentem quando erram em alguma atividade avaliativa nas aulas. O professor pesquisador lançou a seguinte pergunta: “o que você sente quando sabe que errou em uma atividade na aula?”
Representações de ideias e sentimentos recorrentes nas produções dos alunos incluía medo, vergonha, preocupação, decepção, raiva, sentimento de derrota e de ser inútil.
Veja algumas das produções das crianças:
"Eu fico com muito medo de eu ganhar uma nota ruim e fico triste e quando eu erro com a caneta no caderno eu pego o corretivo e apago e quando eu não tenho corretivo eu arranco a folha ou rabisco aonde eu errei." (12 anos, 6ª série)
"Eu me sinto triste e vergonha." No balão, a professora dizendo: "Bianca, vem pegar sua prova!!!! 😔" (11 anos, 6ª série)
"Sinto que preciso procurar mais, que o que estou fazendo está errado e que preciso acertar isso, preciso estudar mais, e ao mesmo tempo me sinto triste por não estar fazendo certo." (15 anos, 9º ano)
Segundo o autor da pesquisa,
“nosso papel enquanto professor é pesquisar e propor soluções para que o processo educacional seja democrático, que não exclua aqueles que não conseguem atingir alguns resultados e acabam muitas vezes por ficarem desmotivados e se sentirem fracassados. Este sentimento de inutilidade e fracasso pode ser um indicativo do fenômeno de evasão escolar. Podemos perceber que os alunos estão se culpabilizando pelo erro como se fossem únicos responsáveis pelo mesmo. Professores e estudantes precisam aprender que o erro pode ser usado como ferramenta no processo educacional, o erro é gerador de crítica e criatividade, te dá novos rumos e horizontes, novos caminhos com abertura para o diálogo, reflexão, cooperação, dentre outros aspectos importantes na formação do cidadão. E também traz a reflexão de que o professor pode trazer a responsabilidade para si e mudar as formas como conduz seu trabalho em alguns pontos da sua trajetória profissional como educador.”
Fonte:
Torres, Rodrigo De Melo. Aulas de geografia no Ensino Fundamental
II e a questão da avaliação: as concepções de erro escolar em turmas de 6º e 9º
ano de uma escola estadual de Foz do Iguaçu/PR em 2019. Trabalho de
conclusão de curso, UNILA. Foz do Iguaçu, 2019.