Texto da psicóloga Ellen Hendriksen
Recentemente, uma colega de trabalho postou no facebook que seu irmão havia falecido. Eu sabia que tinha que dizer algo, mas nada parecia apropriado. Apenas um "like" nas redes sociais me parecia inadequado. Nós nunca tínhamos conversado por telefone antes, então uma ligação estava fora de cogitação. Então, decidi por uma mensagem privada pelo Whatsapp. Olhei para a tela em branco durante minutos. Escrevia, apagava, reescrevia.
Recentemente, uma colega de trabalho postou no facebook que seu irmão havia falecido. Eu sabia que tinha que dizer algo, mas nada parecia apropriado. Apenas um "like" nas redes sociais me parecia inadequado. Nós nunca tínhamos conversado por telefone antes, então uma ligação estava fora de cogitação. Então, decidi por uma mensagem privada pelo Whatsapp. Olhei para a tela em branco durante minutos. Escrevia, apagava, reescrevia.
O que dizer? Como ser sincera sem usar clichês, mas ainda mantendo toda formalidade necessária para o momento?
Eu sei que não sou a única com esse problema. Quando um amigo ou ente querido sofre uma perda, pode ser difícil saber o que dizer ou fazer. Ficamos preocupados em dizer a coisa errada, causar mais dor e piorar as coisas. Também nos preocupamos tanto em confortar a pessoa do "jeito certo" que às vezes acabamos sem dizer nada.
Existem algumas razões pelas quais o luto de outra pessoa nos faz ficar paralisados e talvez exista alguma forma da gente ficar mais tranquilo nesses momentos.
1. O primeiro motivo de desconforto é simplesmente o fato de não saber o que dizer.
Sentir-se sem palavras é o desafio mais comum.
Vivemos em uma sociedade de cuidado, queremos ajudar e acabar de vez com a dor do outro, mas não há palavras no mundo que possa fazer isso.
Uma boa opção nesse momento é usar esta fórmula (é simples e sincera): reconheça a dor e ofereça ajuda quando necessário.
Exemplo: "é muito difícil essa situação que você está passando, estou aqui se você precisar".
Há muitas variações dessa frase.
Por exemplo, você pode dizer: “o que você está passando é realmente muito triste. Fico preocupado com você. Me ligue a qualquer hora que precisar."
Ou: “Sinto muito pela morte de Lucia. Vocês são muito importantes para a nossa família. Como podemos ajudar?"
E, sejamos sinceros, mesmo que você acabe expressando uma frase mais comum como "meus sinceros sentimentos" ou "meus pêsames", TUDO BEM! Você não está participando de nenhum concurso de frase mais criativa. Se essas palavras transmitirem sua preocupação e vierem do coração, não serão clichês, serão apoio.
E, ainda sobre não ter palavras, saiba que em uma visita pessoal, você pode até sentar junto da pessoa em silêncio. Pode parecer estranho, mas é a sua presença, não as suas palavras, que será mais importante.
2. Você fica preocupado de estar se intrometendo.
Somos ensinados a oferecer privacidade e respeito após uma morte. Mas privacidade não deve significar ficar mudo. Nunca é desrespeitoso oferecer apoio e carinho.
E há uma diferença entre "não se intrometer" e evitar. Então vá em frente e fale sobre a pessoa que morreu. Lembre-se da pessoa, compartilhe memórias, diga o quanto ela significava para você. Além de reconhecer que o falecimento foi uma grande perda, isso demonstra que o que aconteceu não é um tema intocável — que o nome da pessoa querida não é tabu apenas porque ela faleceu.
3. Você não sabe o que fazer para a pessoa se sentir melhor.
Esse é um problema sem solução. Não é você quem vai consertar as coisas. Você não pode! E também... você não precisa.
O luto é como uma refeição pesada: o único jeito de resolver é digerindo. E isso leva tempo — até um ano ou dois para muitas pessoas, embora você nunca "supere" uma perda próxima. A pessoa amada será sentida para sempre.
Fato é que muitas das frases usadas para tentar fazer as pessoas se sentirem melhor, como "ele está em um lugar melhor" ou "as coisas vão se acertar" ou mesmo "o tempo cura todas as feridas" são vazias, ou, na pior das hipóteses, podem até soar como um insulto. Quem disse que o melhor lugar para a pessoa que morreu não seria estar viva e em casa com sua família? E as coisas podem nunca voltar ao "normal" novamente, pelo menos não ao antigo normal.
Lembre-se que o importante é reconhecer a dor que o outro está passando e não invalidá-la. É difícil sim! É chato sim! É triste sim...
Mas se o desejo de fazer alguém próximo se sentir melhor é forte, em vez de oferecer conselhos vazios, ofereça apoio prático: execução de alguma tarefa, resolver burocracias, pegar um copo d'água, oferecer refeição, cuidar das crianças enquanto os adultos estão ocupados, ou dos animais de estimação.
Uma dica é quando for oferecer ajuda, evitar dizer: "me avise SE precisar". O 'se' pode causar constrangimento. Prefira dizer: "me avise QUANDO precisar". Outra dica é você já chegar sugerindo o que você gostaria de fazer pela pessoa.
Uma nota final: se você acha que perdeu uma chance passada de ajudar ou consolar alguém que perdeu um ente querido, bem, você tem outras chances. Aniversários de morte costumam ser difíceis, mas pode ser a chance de você se lembrar de alguém que é importante para você. Seu amigo provavelmente será tocado e ficará mais fácil para ele "digerir" a perda. Nunca é tarde para mostrar que você se importa, e não precisa ser "aniversário", pode ser uma semana ou um mês depois.
Você pode até dizer no momento da perda: "sei que você está com a cabeça muito ocupada neste momento, mas daqui a uma semana espero poder conversar melhor com você".
Enfim, lembre-se:
1. Reconheça a dor e ofereça ajuda.
2. Você não está se intrometendo.
3.Não é você que vai consertar as coisas...
4. E, claro, não há problema em você se sentir também um pouco com o coração partido.