Sim, o que ele escreveu na carta serve de lição, ponto! O que está escrito lá não deve ser tomado como motivação ou modelo a ser seguido.
Há mais de século é sabido pela ciência e por profissionais da comunicação que a divulgação de notícias de suicídio estimula outras pessoas a tentarem o mesmo. Sobretudo quando a pessoa noticiada tem fama e prestígio entre o grande público — há até um nome para o evento nas ciências sociais e do comportamento: efeito Werther.
Flávio Migliaccio tinha 85 anos, e, assim como ele, muitos idosos hoje também concordariam que décadas de vida foram jogadas fora; muitos idosos foram abandonados pela família; muitos idosos acreditam que a velhice é um caos... e todos os dias, muitos idosos, assim como Migliaccio, pensam em tirar a própria vida.
Estamos hoje vivendo um momento de pandemia, em que idosos, por estarem em grupo de risco, estão ainda mais isolados e confinados em casas, ou abandonados em lares de idosos. Notícias de que um de seus pares escolheu como saída para um sofrimento social e emocional tirar a própria vida só irá alimentar ainda mais pensamentos de morte que já ocupam a cabeça de muitos idosos.
Nas últimas semanas, foi amplamente divulgado em toda mídia que idosos são o principal grupo de risco para a Covid-19. Mas muita gente não sabe que idosos também são o principal grupo de risco para o suicídio — idosos com 60 anos ou mais apresentam a maior taxa de suicídio no Brasil.
Aprenda a lição deixada na mensagem da carta, mas não exalte suas motivações. Em suas últimas palavras, Migliaccio pediu para gente cuidar: “cuidem das crianças de hoje!” Cuide das crianças, ensine elas a criar um mundo melhor. Cuide também dos idosos que estão próximos a você, ofereça condições de saúde e bem-estar. E, agora principalmente, tenha cuidado com as notícias que você compartilha.