Não é ficção científica, nem um bebê superdotado desenvolvido em laboratório. É só o resultado de uma pesquisa publicada meio século atrás por Ilze Kalnins e Jerome S. Bruner, ex-professor de psicologia de Harvard.
O objetivo do estudo de Kalnins e Bruner, publicado em 1973, era na verdade a investigação do desenvolvimento da percepção visual de bebês, tema relevante no início da era das ciências cognitivas, assim como era de interesse também o estudo do desenvolvimento de qualquer uma das capacidades cognitivas humanas.
Na época, descobriram que bebês não só são interessados com eventos visuais a sua volta, mas que eles também se esforçam para conseguir ver com a melhor clareza possível. Kalnins e Bruner mostraram que eles podem agir espontaneamente para controlar o foco de uma imagem apresentada a eles. Eles apresentaram a crianças de 5 a 12 semanas um vídeo colorido cujo foco estava, através de um aparato tecnológico, associado com a frequência de sucção na mamadeira. Sugar mantinha o vídeo bem nítido, e quando os pesquisadores invertiam o sistema, associando o comportamento de sugar com tornar o vídeo embaçado, o bebê parava de sugar.
Sugar é um dos poucos comportamentos que bebês bem pequenos conseguem controlar, por isso sua manipulação em experimentos de aprendizagem operante pode ser bem útil para medir indiretamente o que se passa na “mente” da criança. Na verdade, Bruner e Kalnins não foram os primeiros a associar o comportamento de sucção com algum evento externo. Em 1969, Siqueland e DeLucia já haviam publicado um estudo sobre aprendizagem na revista Science onde usavam feedbacks visuais para reforçar o comportamento de sugar de bebês de 4 a 12 meses. A chupeta do bebê era conectada a um polígrafo que registrava a taxa de resposta do bebê, cuja amplitude aumentava automaticamente a intensidade de luz de um projetor de fotos que funcionava como reforço positivo para o comportamento de sugar do bebê.
No início da década de 70, Peter Eimas (1971) e Earl Butterfield (1972) estão entre outros pesquisadores que usaram o mesmo esquema de aprendizagem operante para investigar a percepção em bebês, dessa vez, associando o comportamento de sugar com a percepção auditiva — com voz e músicas, respectivamente.
Referências:
Kalnins, I. V., & Bruner, J. S. (1973). The Coordination of Visual Observation and Instrumental Behavior in Early Infancy. Perception, 2(3), 307–314.
Siqueland, E. R., & DeLucia, C. A. (1969). Visual reinforcement of nonnutritive sucking in human infants. Science, 165(3898), 1144–1146.
Eimas, P. D., Siqueland, E. R., Jusczyk, P., & Vigorito, J. (1971). Speech Perception in Infants. Science, 171(3968), 303–306.
Butterfield E.C., e Siperstein, G.G. (1972). Influences of contingent auditory stimulation upon nonnutritional sucking. In J. Bosma (Ed.), Oral sensation and perception: the mouth of infant. Springield, IL: Charles C Thomas.