“Textão da Quarentena” que viralizou no facebook traz desabafo de professora com exigências para quarentena



A própria professora Kinha Fonteneles colocou o título em sua publicação: “Textão da Quarentena”. No post que foi compartilhado milhares de vezes nos últimos dias, ela faz um desabafo sobre o desafio de produzir conteúdo online para diversas turmas conforme exigência que tem sido imposta por secretários de educação durante período de quarentena.

O texto, que acompanha uma foto de cara pouco amigável (foto acima), termina com um apelo para os alunos, pais e escola.

Veja o texto completo da professora:

O textão da Quarentena:
(E lá se vão duas semanas)
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Vai ser um textão do desabafo sim.
Acho que todo mundo passa por momentos de desespero de vez em quando. E se estamos em isolamento social, acho que esses momentos ficam mais rotineiros.

Essa foto não é de hoje.
Hoje eu estou bem. (Por enquanto)
Mas essa foto tem história.
Ela veio de uma crise de ansiedade depois não conseguir montar uma videoaula.E é sobre essas aulas que eu vim desabafar.

Eu tenho um total de 21 turmas.
Em tempos comuns eu gasto - mais ou menos - 3 dias para montar aula, prova, exercícios e atividades.

Para conseguir dar aula para 21 turmas, eu fiz 5 anos de curso, mais 5 anos de faculdade mais duas pós.

Uma semana - contando 7 dias - se eu trabalho 3, às vezes 4 ou 5... Me sobra tempo para brincar com os cachorros, dormir, descansar, ler, ir para academia e fazer o que eu bem entender.

(Mas isso era antes da quarentena.)

No dia que essa foto foi batida, eu ouvi a seguinte frase (depois de pedir ajuda com programa de edição de vídeo): "Você tem que se virar sozinha. É tão simples, não é possível que vc não entenda." (A frase pode não ser essa ao pé da letra, mas sem dúvida o contexto é).

Eu não sou Youtuber.
Eu não sou blogueirinha.
Eu não ganho minha renda fazendo entretenimento virtual para outras pessoas.

EU SOU PROFESSORA.
E eu estudei muito pra chegar até aqui... E não fiz nada disso sozinha.

Hoje, para gravar uma aula de 25 minutos, para UMA turma eu demoro - entre fazer a aula, gravar e editar - um dia, um dia e meio. Agora é só fazer as contas... Com 21 turmas, quanto tempo eu perco na frente do computador?

Some isso ao fato de eu não saber, e ter que procurar tutoriais na internet.
Some ainda, estarmos todos em casa. Então é criança correndo pra lá pra cá (muitos professores, têm filhos, vcs sabiam?), gente chamando, o escritório ou ambiente de trabalho - que é dividido com outras pessoas que também estão em home-office.

Some ainda a pressão de trabalhar mais e ouvir, que talvez, você tenha seu salário reduzido porque os pais dos seus alunos falam que você, professor, está em casa ganhando para fazer videozinho...

Some a pressão da própria quarentena.

Quanto tempo me sobra apenas para respirar? Porque sim, brincar com os cachorros, ler e descansar... Eu já desisti.

Exigir que a gente aprenda outras coisas do dia para noite é cruel.
E eu entendo que a roda não pode parar de girar, e que os alunos têm que ter aulas... E que a vida continua.

Eu não quero férias.
NÃO SÃO FÉRIAS!!!

Eu quero empatia.
Eu quero que as pessoas entendam, que a gente está correndo contra o tempo pra deixar tudo pronto prós filhos de vocês.
Que estamos trabalhando o triplo.
E que estudamos muito para chegarmos a professores. Dar aula não foi do dia pra noite.

Aluno, olhe pro seu professor com mais carinho.
Pai, mãe... Não diga que o professor do seu filho tá em casa sem fazer nada.
Familiares, entendam que nós vamos precisar de ajuda.
Escolas, valorizem seus profissionais.

A quarentena vai acabar. E qual é a lembrança que você quer levar dela?




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