Comportamento de risco de adolescentes pode ser benéfico e ajudar em seu desenvolvimento social, diz estudo
É um consenso entre pais, educadores e mesmo cientistas que adolescentes, em geral, estão mais inclinados a se envolverem em atividades arriscadas e perigosas.
A explicação comum para esse fato é que os jovens ainda não amadureceram a parte do cérebro responsável pelo autocontrole. A falta de autocontrole seria a “causa” de eles não terem noção das consequências.
Um estudo recente, entretanto, parece desafiar essa visão.
Segundo os autores de um artigo publicado recentemente na revista científica Current Directions in Psychological Science, pesquisas nos últimos anos trazem evidência de que comportamentos de risco dos adolescentes podem ser estratégicos e envolver alto nível de controle cognitivo, ao invés de “falha” de autocontrole.
Mais do que isso, pesquisas em psicologia e neurociência sugerem que comportamentos de risco são positivos e adaptativos, pois ajudam na aprendizagem e desenvolvimento social dos jovens.
Se, por exemplo, um adolescente está explorando um local desconhecido ou criando novas maneiras de se divertir com um skate ou bicicleta, isso requer muito mais controle e esforço cognitivo do que agir de acordo com um comportamento padrão prévio.
Costumamos pensar que se arriscar é agir com impulso. Entretanto, o comportamento impulsivo é o comportamento habitual automático. Se arriscar, ao contrário, significa sair do automático e explorar o desconhecido — e isso demanda grande esforço cognitivo.
Comparados aos adultos, os adolescentes têm maior propensão a explorar o que há de desconhecido ao seu redor, motivados pelo valor de adquirir novas informações e aprender sobre como as coisas funcionam. Os adolescentes são melhores que os adultos em aproveitar as informações que adquirem ao explorar seus ambientes para melhorar as escolhas futuras, particularmente nos domínios sociais ou quando incentivados por grandes recompensas. Indivíduos mais velhos são mais conservadores, menos criativos ao explorar seu ambiente, evitam incertezas e tendem a manter suas crenças mesmo diante de evidências inconsistentes com suas hipóteses prévias.
Adolescentes se arriscam mais, mas isso tem mais a ver com "tolerância ao desconhecido" do que falta de autocontrole
Segundo a pesquisadora Agnieszka Tymula e colegas de pesquisa, os adolescentes se arriscam mais do que os adultos só quando os riscos são desconhecidos. Por outro lado, quando os riscos são conhecidos, os adolescentes são mais avessos ao risco. Isso sugere que os adolescentes se envolvem estrategicamente em comportamento exploratório apenas quando os riscos no ambiente são desconhecidos.
Os pesquisadores descrevem os jovens com uma “tolerância ao desconhecido” maior do que os mais velhos. Eles se arriscam mais, mas isso não significa falta de controle ou inconsequência. Pelo contrário, é um comportamento estratégico e que pode trazer benefícios. Biologicamente essa tolerância ao desconhecido pode fazer sentido, porque permite aos organismos jovens aproveitar melhor as oportunidades de aprendizado.
Para saber mais:
Do, K. T., Sharp, P. B., & Telzer, E. H. (2019). Modernizing Conceptions of Valuation and Cognitive-Control Deployment in Adolescent Risk Taking. Current Directions in Psychological Science, 096372141988736.
Crone, E. A., & Dahl, R. E. (2012). Understanding adolescence as a period of social–affective engagement and goal flexibility. Nature Reviews Neuroscience, 13(9), 636–650 .
Maslowsky, J., Owotomo, O., Huntley, E. D., & Keating, D. (2019). Adolescent Risk Behavior: Differentiating Reasoned And Reactive Risk-taking. Journal of Youth and Adolescence .
Telzer, E. H. (2016). Dopaminergic reward sensitivity can promote adolescent health: A new perspective on the mechanism of ventral striatum activation. Developmental Cognitive Neuroscience, 17, 57–67.
Tymula, A., Rosenberg Belmaker, L. A., Roy, A. K., Ruderman, L., Manson, K., Glimcher, P. W., & Levy, I. (2012). Adolescents’ risk-taking behavior is driven by tolerance to ambiguity. Proceedings of the National Academy of Sciences, 109(42), 17135–17140.