por
Eduardo de Rezende
12
de janeiro de 2019
Além de sua função básica para o processo digestivo, a
mastigação tem sido reconhecida recentemente pelo seu potencial efeito na
promoção de saúde. Destaque especial tem sido dado à associação entre a
mastigação e funções cognitivas do cérebro e de regulação emocional.
Pesquisas em animais e humanos têm mostrado que a mastigação
preserva o bom funcionamento de áreas do cérebro importantes para o raciocínio,
aprendizagem, memória e redução do estresse, e contribui na regulação de respostas
fisiológicas do estresse e ansiedade.
No que diz respeito ao desempenho em tarefas de raciocínio,
a mastigação aumenta a ativação do córtex pré-frontal e do hipocampo, regiões
cerebrais essenciais para o processamento cognitivo. Em pesquisas com grupo
controle, os voluntários no grupo com intervenção para mastigação (p.ex. mascando
chiclete) tem melhor desempenho nas tarefas do que o grupo sem mastigação.
Uma das razões para esse efeito é que o movimento de mastigar
aumenta a disponibilidade de glicose, a oxigenação, a frequência cardíaca e o
fluxo de sangue nessas regiões do cérebro. Além disso, pesquisadores afirmam
que pode existir algum mecanismo neuronal específico da mastigação que esteja
intimamente associado a essas regiões cerebrais e que, portanto, contribua para
a manutenção ou melhoria das funções de aprendizagem e memória.
Em relação à regulação do estresse, pesquisadores relatam
que a mastigação inibe respostas fisiológicas ativadas pelo estresse, baixando
a temperatura e a pressão arterial e suprimindo a liberação de “hormônios do
estresse” como a corticotrofina e adrenalina. Diversos mediadores neuroquímicos
produzidos durante a mastigação preservam o funcionamento do hipocampo,
hipotálamo, amígdala e sistema límbico — regiões cerebrais associadas à
percepção do estresse e ao processamento de estímulos estressores e de
respostas fisiológicas associadas ao evento —, alterando assim estados afetivos
como medo e ansiedade.
Mascar chiclete reduz estresse?
A mastigação intencional pode ser uma estratégia eficiente
para lidar com o estresse, afirmam os pesquisadores. A ideia não é nova: foi
investigada pela primeira vez pelo psicólogo norte americano Harry Levi
Hollingworth em um trabalho publicado em 1939 na revista Science. Mais de meio século depois, pesquisas tem confirmado a
hipótese de que o movimento de mastigação pode aliviar o estresse.
Pesquisas sugerem que mascar chiclete reduz o
estado de estresse tanto em situações cotidianas quanto em condições
experimentais dentro de laboratórios.
Resultados de uma pesquisa conduzida pelo professor Andrew
Smith do departamento de psicologia clínica e ocupacional da Universidade de
Cardiff no Reino Unido, mostraram que mascar chiclete estava associado com
menor nível de estresse, fadiga, depressão e ansiedade dentro e fora do
trabalho. Mascar chiclete também foi associado com humor mais positivo e melhor
performance dos funcionários no trabalho.
Em outro estudo publicado em 2011, pesquisadores dividiram
50 voluntários em dois grupos. O primeiro grupo foi orientado a mascar
chicletes todos os dias durante duas semanas; o segundo era o grupo controle sem
chiclete. Após 14 dias, comparando os dois grupos, o nível de ansiedade e
fadiga foi significativamente menor no grupo que participou da intervenção
mascando chicletes diariamente.
Pesquisadores sugerem diversas causas para o efeito. Para
muitos, mascar chiclete reduz o estresse da mesma maneira que a atividade
física. A atividade repetitiva da mastigação aumenta os níveis de serotonina, produzidos
pelo movimento rítmico da mastigação. Segundo Takanobu Morinushi, o ato de
mascar chiclete leva a um estado de relaxamento semelhante também a atividades de
meditação. Outra causa descrita pelos pesquisadores é que mascar chicletes
ajuda a ignorar distrações externas e até mesmo anular experiências
estressoras.
Para saber mais:
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