Todos concordamos que nosso objetivo em educação é ver nossas crianças e adolescentes desenvolverem as mais diversas competências que fazem parte do nosso currículo escolar. O que nem todos concordam é COMO fazer isso.
Em matéria controversa publicada na última semana aqui no portal PSICOEDU, a necessidade do famoso “Para Casa” foi motivo de debate. Uma mãe de uma criança de 3 anos solicitou à professora que não enviasse mais tarefas para casa durante a semana devido a rotina atribulada da família que não permitia a realização das mesmas.
Enquanto a maioria dos pais e educadores condenaram a atitude da mãe, outros se colocaram ao lado dela, defendendo a tese de que as tarefas enviadas para casa são muitas vezes desnecessárias, exageradas e pouco efetivas em produzir melhores resultados acadêmicos.
Enquanto a maioria dos pais e educadores condenaram a atitude da mãe, outros se colocaram ao lado dela, defendendo a tese de que as tarefas enviadas para casa são muitas vezes desnecessárias, exageradas e pouco efetivas em produzir melhores resultados acadêmicos.
Durante mais de 10 anos, o professor de psicologia Harris Cooper fez uma longa pesquisa sobre o tema, e encontrou evidências de que as tarefas para casa melhoram o desempenho acadêmico dos estudantes na escola. Entretanto, o resultado é mais evidente para crianças maiores e adolescentes, a partir do 6º ano do fundamental até o Ensino Médio. Já para crianças pequenas, da Pré-Escola ao 5º ano do fundamental, a relação entre dever de casa e desempenho escolar não foi muito forte.
Em sua pesquisa, Cooper também notou que as tarefas para casa melhoram os hábitos de estudo, atitudes dos jovens em relação a escola, autodisciplina, curiosidade e autonomia na resolução de problemas. Apesar da fraca relação entre tarefas para casa e desempenho entre crianças pequenas, o autor defende que pequenas quantidades de tarefas são úteis para qualquer estudante.
A escola deve ser prioridade
O debate sobre a necessidade de tarefas para casa não é recente. Há 30 anos atrás, o pesquisador em educação Bill Barber defendia que não havia evidência alguma de que tarefas para casa traziam melhores resultados para o desempenho acadêmico dos estudantes. Para ele, esta era uma questão periférica dentro da agenda educacional, e antes de nos preocuparmos com dever de casa, precisamos nos preocupar em transformar as escolas em espaços mais favoráveis e agradáveis à aprendizagem. E, para isso, ele ofereceu quatro sugestões:
1. Precisamos criar ambientes de aprendizagem que contribuam para diferentes maneiras de aprender e que permita que os estudantes avançem na escola em seu próprio ritmo.
2. Os estudantes precisam ter a oportunidade de um ensino de qualidade na escola antes de qualquer tentativa de enviar tarefas para casa.
3. Os estudantes precisam de mais autonomia e melhor acesso a recursos na escola e em sua comunidade (biblioteca, laboratórios, espaços de lazer e cultura etc).
4. Novas tecnologias precisam estar disponíveis para remediar o ensino centrado no quadro com giz e a aula expositiva.
Para Barber, esses tópicos devem ser prioridade na agenda educacional, e, enquanto não forem atendidos, pouco importa o debate sobre “dever de casa”.
Referências:
Barber, Bill (1986). Homework Does Not Belong on the Agenda for Educational Reform. Educational Leadership, 43, 8, p55-57.
Cooper, H., Robinson, J. C., & Patall, E. A. (2006). Does Homework Improve Academic Achievement? A Synthesis of Research, 1987–2003. Review of Educational Research, 76(1), 1–62.
Frank Coulter (1979) Homework: a neglected research area, British Educational Research Journal, 5:1, 21-33.