Tablets e celulares estão associados ao atraso no desenvolvimento da fala

Com o crescente número de dispositivos eletrônicos em nossas casas e o fácil acesso das crianças a esses aparelhos, muitas vezes elas começam a usá-los antes mesmo de começar a falar. Segundo pesquisa que foi apresentada esse ano, essas crianças podem ter risco aumentado para atraso no desenvolvimento fala.




Em um estudo publicado em 2008, os autores relataram atraso significativo no desenvolvimento da fala em crianças menores de 4 anos que diariamente passavam tempo demais na frente da TV.

Em outro estudo de 2013, pesquisadores fizeram uma revisão de diversas pesquisas anteriores e relataram que em crianças menores de 3 anos de idade que fazem uso diário de eletrônicos como televisão, DVD e video-games, há um atraso considerável no desenvolvimento cognitivo e da linguagem além de baixo desempenho escolar ao longo da infância.

Agora, nova pesquisa que foi apresentada esse ano no Encontro Anual da Sociedade de Pediatria nos Estados Unidos sugere que, em crianças menores de 2 anos de idade, há uma associação negativa entre o tempo ocupado com smartphones e tablets e o desenvolvimento da linguagem. Ou seja, quanto maior o tempo dispensado com esses dispositivos maior será o atraso na aquisição da fala.

No estudo, o time de pesquisadores do programa TARGet Kids! no Canadá acompanharam mais de mil crianças, de 6 meses a 2 anos de idade, entre setembro de 2011 e dezembro de 2015. Do total de crianças, 20% fazia uso diário de dispositivos eletrônicos, em média 28 minutos por dia.

Com base no relato dos pais e em uma ferramenta para avaliação da linguagem, os pesquisadores descobriram que quanto maior o tempo ocupado com dispositivos eletrônicos, maior a probabilidade de a criança apresentar atrasos na fala.

Os pesquisadores não obervaram associação entre o tempo de uso desses dispositivos e atrasos em outras habilidades de comunicação (como interações sociais, linguagem corporal ou gestos).



As crianças aprendem a falar e a se comunicar através de interações com outras pessoas. Sempre foi assim e continuará a ser, independente de qualquer nova tecnologia que possa aparecer. Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento da linguagem das crianças. É quando os cérebros delas estão mais receptivos para novas aprendizagens e estão construindo caminhos de comunicação que farão parte deles para o resto de suas vidas.

Apesar das recomendações bastante frequentes de pediatras e outros especialistas da área da saúde para restringir o uso desses dispositivos por crianças menores de dois ou quatro anos, ainda é bastante comum que pais aproveitem os eletrônicos como “chupeta” para acalmar e ocupar os filhos.

Os resultados da pesquisa apoiam políticas de saúde para desencorajar o uso de qualquer tipo de dispositivo eletrônico de tela, como tablets e smartphones, para crianças menores de 18 meses.

Mais pesquisas ainda são necessária para entender os mecanismos que estão por trás da aparente relação entre o tempo de uso de eletrônicos e o atraso da fala. É necessário avaliar qual o tipo de relação das crianças com os pais, o tempo gasto em outras atividades, e ainda compreender qual o impacto desse evento ao longo da infância.




Fonte:


MA, Julia et al. Is handheld screen time use associated with language delay in infants? Resumo apresentado no Pediatric Academic Societies Meeting, maio de 2017. Disponível em: <https://registration.pas-meeting.org/2017/reports/rptPAS17_abstract.asp?abstract_final_id=1380.1>.

DUCH, FISHER e HARRINGTON. Screen time use in children under 3 years old: a systematic review of correlates. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, 2013.

CHONCHAIYA e PRUKSANANONDA. Television viewing associates with delayed language development. Acta Pædiatrica, 2008.

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