Muitos pais ficam preocupados quando os filhos pequenos (até 6 anos) começam a ficar agressivos. Mas, mesmo as crianças mais desafiadoras podem aprender a se acalmar. Para isso, os adultos devem ensinar maneiras construtivas de enfrentar ou evitar situações estressantes que sobrecarregam a capacidade da criança de se autocontrolar.
Crianças bem pequenas tendem a se movimentar, gostam de explorar o ambiente e testar seus limites. É nesses momentos que os pais devem ajudá-las, ensinando habilidades de autocontrole para que a exploração do mundo e o desenvolvimento de hábitos ocorram de forma saudável.
Nas últimas décadas, pesquisas mostraram que há uma relação entre problemas externalizantes (agressividade, destruição de objetos, xingamentos etc.) em crianças pré-escolares e o estilo de parentalidade (como os pais agem em relação aos filhos).
As crianças com o pior comportamento tendem a ter pais em um dos dois extremos: ou elas têm "pais sargentos" (que exigem obediência absoluta), ou pais do tipo que "qualquer coisa vale" (que deixam as crianças ganharem quando elas se comportam de forma inadequada).
Por outro lado, os pré-escolares com o menor número de problemas externalizantes tiveram pais que impuseram limites, mas o fizeram com sensibilidade e expectativas realistas sobre as habilidades de seus filhos.
Claro, isso não significa que os pais são responsáveis por todos os problemas, ou que todos os pais lidam com desafios igualmente fáceis. Quando os pais consideram que o comportamento do filho é exagerado quando comparado ao comportamento de outras crianças da mesma idade, ele deve considerar buscar ajuda profissional.
Eventos estressores nos primeiros anos de vida podem alterar o sistema emocional da criança e aumentar suas chances de se tornar uma criança agressiva. Além disso, algumas crianças mostram diferenças temperamentais (como irritabilidade excessiva, ou uma incomum falta de medo) que podem colocá-las em maior risco de problemas de comportamento.
Mas esses problemas iniciais não determinam o futuro. De fato, muitas crianças em risco parecem responder bem às influências de um bom cuidado parental. Não existe receita pronta, mas se você está lidando com agressividade dos filhos, considere as dicas apresentadas abaixo.
1. Preste atenção nos gatilhos ambientais
“Gatilhos” são eventos que disparam ou acionam os comportamentos. Fique atento aos eventos ambientais que podem estar contribuindo para o aparecimento de problemas externalizantes nas crianças. Eventos estressores, como sono deficiente, tensões entre os membros da família e até televisão podem, nessa idade, contribuir para esses comportamentos desafiadores.
2. Incentive seu filho a pensar e agir com empatia
Ensine seu filho a mostrar empatia e ser bondoso com outras pessoas. As crianças aprendem muito imitando os adultos. Logo, você pode ensinar empatia sendo um bom modelo, e conversando com seu filho sobre emoções.
Fale sobre o que outras pessoas estão sentindo e enfatize as boas intenções que acompanham suas ações. Crianças com problemas externalizantes muitas vezes estão convencidas de que as pessoas são hostis a elas, mesmo quando isso não é verdade, e isso as leva a atacar. Ao fornecer explicações alternativas ("ele não está bravo com você, está chateado com outra coisa", ou "ele não queria te machucar, ele estava apenas brincando") você ajuda seu filho a aprender a pensar de forma otimista e a manter relações amigáveis.
3. Pratique a parentalidade positiva
Quando tentamos controlar as crianças com ameaças e punição, corremos o risco de colocar mais combustível no fogo, fazendo com que a criança se comporte de forma ainda mais desafiadora.
Os pais que adotam a abordagem oposta – reforçando o comportamento socialmente aceitável – tendem a ver um padrão de diminuição da agressão ao longo do tempo.
Se você tem uma criança emocionalmente enfraquecida, ajude-a a encontrar caminhos apropriados para se aventurar. Se você tem uma criança muito irritável, ajude-a a evitar situações que desencadeiam sua raiva e ensine estratégias para lidar com emoções negativas (como respirar fundo, fazer exercícios físicos ou colocar seu mau humor em palavras).
4. Birra e teimosia: cuidado para não reforçar o comportamento inadequado
Às vezes, o comportamento da criança pode representar um risco para a sua própria segurança ou para a segurança de outras crianças. Nesses casos o adulto deve intervir para evitar possíveis danos.
A maioria das vezes, ao contrário, quando o comportamento não apresentar risco de segurança, é melhor esperar até que a irritação no momento da explosão tenha terminado. Quando a criança se comporta de maneira inadequada, qualquer conversa ou atenção de um pai (mesmo uma simples pergunta) pode reforçar o comportamento, prolongando a raiva da criança.
Espere o comportamento explosivo cessar para conversar com a criança.
5. Busque ajuda especializada
As crianças podem estar mais propensas a desenvolverem problemas de comportamento mais graves a longo prazo se suas birras são frequentes (ocorrem diariamente), prolongados (duração superior a 5 minutos), imprevisíveis ou marcadas por violência física. Da mesma forma, as crianças que parecem estranhamente frias, sem emoção, ou indiferentes à ameaça de punição, podem sofrer de transtornos de conduta. Se o seu filho apresentar essas características, você deve considerar buscar ajuda de um profissional para ajudar. Um profissional pode oferecer tratamento e aconselhamento adequado às necessidades do seu filho, e a intervenção precoce pode fazer uma grande diferença.
Para saber mais:
LINS et al. Problemas externalizantes e agressividade infantil: uma revisão de estudos brasileiros. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 2012.
SILVA, DEL PRETTE e DEL PRETTE. Brincando e Aprendendo Habilidades Sociais. Jundiaí: Paco Editorial, 2013.
SILVA, DEL PRETTE e DEL PRETTE. Brincando e Aprendendo Habilidades Sociais. Jundiaí: Paco Editorial, 2013.
GOMIDE, Paula. Estilos Parentais e comportamento anti-social. Em: Del Prette & Del Prette (Orgs.). Habilidades Sociais, desenvolvimento e aprendizagem (p.21-60). Campinas: Alínea, 2003.
GOMIDE, Paula. Pais Presentes, Pais Ausentes: Regras e Limites. Petrópolis: Vozes, 2004.
FERREIRA e MILAGRE. Controle, limites e transgressões. Belo Horizonte: Artesã Editora, 2015.
FERREIRA e MILAGRE. Controle, limites e transgressões. Belo Horizonte: Artesã Editora, 2015.
PICADO, Juliana. Fatores de risco e de proteção: um estudo de acompanhamento em pré-escolares com comportamentos agressivos. Dissertação, UFSCar, 2006.