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Behaviorismo e Educação: a abordagem comportamental na escola

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Uma recomendação inicial

Behaviorismo é um tema que faz parte dos programas de formação de professores e pedagogos. É geralmente apresentado nas disciplinas de Psicologia ou Teorias da Aprendizagem junto de outras tantas teorias psicológicas.

Infelizmente, a forma como o behaviorismo tem sido apresentado nos cursos de licenciatura e magistério tem contribuído para uma atitude de rejeição da abordagem por parte dos educadores.

Grande parte dos conteúdos apresentados são mal-entendidos e ideias equivocadas sobre a abordagem. Isso acontece porque o professor do curso, ou os autores dos textos apresentados, têm pouca ou nenhuma familiaridade com a área, e acabam reproduzindo equívocos que ouviram de outra pessoa ou leram de fontes pouco confiáveis.

O problema é tão grande que muitos behavioristas já escreveram dezenas de artigos e livros na tentativa de corrigir esses erros e esclarecer os conceitos e fundamentos de sua disciplina.

Uma primeira recomendação para quem está interessado em conhecer o behaviorismo é a busca por fontes originais. Ou seja, ler autores que são da área e que dominam o assunto. Assim você estará evitando falhas no entendimento dos conceitos e princípios básicos do behaviorismo.

Frequentemente o behaviorismo é descrito com frases vazias como: “para o behaviorista a aprendizagem é resultado da associação de estímulos e respostas”, ou ainda “o comportamento do aluno é moldado através de estímulos e reforços de forma mecanizada”.

Obviamente, termos como estímulo, resposta e reforço são conceitos da ciência do comportamento. Mas quando apresentados de forma arbitrária, em frases como as apresentadas acima, eles não têm significado algum.

Sem entender o que esses conceitos representam dentro do quadro conceitual do behaviorismo, essas frases têm pouco a nos dizer, e, pior, muitas vezes reproduzem concepções enganosas sobre a abordagem.



1. Psicologia e behaviorismo


Desde que os primeiros homens tentaram fazer da psicologia uma disciplina científica, muitas foram as discussões sobre quais seriam os fundamentos dessa ciência.

Autores diferentes propuseram psicologias diferentes — cada uma com seu objeto de estudo, sua filosofia, seus métodos, seus conceitos e suas aplicações. Hoje, não podemos nos referir à psicologia como unidade. Existem psicologias, no plural. Fato é que essas psicologias não são teorias que se complementam, mas sim uma coleção heterogênea de ideias e práticas concorrentes.

O behaviorismo é uma dessas psicologias. Ele nasceu como um movimento que oferecia uma alternativa crítica às psicologias que dominavam o cenário científico até o começo do século XX. Nessa época, o psicólogo norte-americano John B. Watson (1878 – 1958) foi o principal porta-voz do movimento.

Antes de Watson, muitos outros autores haviam criado um clima filosófico e científico que buscava aproximar a psicologia das ciências naturais, afastando-a de concepções metafísicos. Entretanto, foi a publicação do artigo de Watson, A psicologia como o behaviorista a vê, que marcou o nascimento do behaviorismo, em 1913.

Watson argumentava que muitos conceitos utilizados pela psicologia eram pouco precisos, e reivindicava o abandono deles. Ele reclamava também por um maior rigor nos métodos de pesquisa e anunciava a necessidade da psicologia se tornar uma ciência aplicada, ou seja, que pudesse trazer resultados práticos para a sociedade.

Do outro lado do mundo, na Rússia, cientistas como Ivan Sechenov (1829 – 1905), Ivan Pavlov (1849 – 1936) e Vladimir Bechterev (1857 – 1927) faziam importantes pesquisas sobre o comportamento em humanos e animais. A nova ciência que surgia por lá ficou conhecida como reflexologia e iria oferecer fundamentos para o behaviorismo norte-americano.

Na história da ciência, as teorias desenvolvidas por Watson, Pavlov e seus contemporâneos ficaram conhecidas como behaviorismo clássico. Logo, essas teorias seriam atualizadas por B. F. Skinner em seu Behaviorismo Radical.

 


Burrhus Frederic Skinner (1904 – 1990) é o nome mais conhecido do behaviorismo. Partindo da obra dos behavioristas anteriores e também de outros pensadores, Skinner reformulou termos e propôs novos conceitos.

Mais do que oferecer respostas diferentes para as perguntas que os psicólogos já faziam, o behaviorismo provocou uma mudança no modo como formulamos perguntas sobre o comportamento.

Para Skinner, o Behaviorismo Radical é a filosofia da ciência do comportamento. Como filosofia, o Behaviorismo coloca questões como:

1. É possível uma ciência do comportamento?
2. Quais devem ser os métodos desta ciência?
3. Uma ciência do comportamento é capaz de explicar cada aspecto do comportamento humano?
4. O que é comportamento?
5. O comportamento é determinado?

Etc.

A partir de questionamentos desse tipo, o behaviorista assume algumas posições: sim, é possível uma ciência do comportamento! Além disso, ele entende que o comportamento faz parte do mundo natural, e não deve ser explicado tendo como referência entidades sobrenaturais ou metafísicas.

O behaviorista, notando que há regularidades no comportamento humano, afirma que os métodos dessa ciência devem ser capazes de investigar as causas dessa regularidade, permitindo que o cientista do comportamento faça descrições e prescrições sobre o fenômeno que estuda.

Entendendo que essas regularidades observadas no comportamento dependem em grande parte da relação do sujeito com o mundo em sua volta, o behaviorista elegeu a análise da interação entre organismo e ambiente como via privilegiada para explicar os fenômenos que a psicologia se propõe a responder.




Muitas vezes, o behaviorista é acusado de estudar só o comportamento. Há uma falsa crença de que o behaviorismo não se preocupa com nosso mundo privado, que comumente chamamos de “vida mental”. Na verdade, o behaviorista reconhece que existe um mundo interno e privado. Entretanto, o behaviorista não faz distinção entre duas substâncias – mente e corpo. Ele rejeita o dualismo e a ideia de uma existência imaterial.

Além disso, o behaviorista também rejeita explicações mentalistas. Por exemplo, se eu perguntasse a você por que está lendo esse texto, você poderia responder: “porque eu quero”. Com essa resposta, você estaria justificando seu comportamento (de ler esse texto) a partir de um “evento mental” (o querer). Ou seja, "o querer causou o comportamento de ler". Para o behaviorista, entretanto, essa resposta não é satisfatória, porque é uma falsa explicação. Quando você responde “porque eu quero” você não está de fato explicando seu comportamento, mas apenas colocando outra questão: “… mas por que você quer ler?”.

A explicação do comportamento não deve ser justificada por um “evento interno”, como se ali tivesse sido o início de tudo. O behaviorista vai além: ele está interessado em responder por que você lê, por que você lê como lê, também o porquê de você querer ler esse texto. Para isso, ele investigará sua história de vida, a situação em que você se encontra no momento e as consequências que estão continuamente sendo produzidas pelo seu comportamento de ler.

Skinner rejeita a “tradição mentalista” que dominava o pensamento ocidental. Quase todas as teorias da mente sustentavam que a mente era um espaço não-físico, de uma natureza especial que não estava submetida às mesmas leis da natureza, e que geralmente era apontada como ponto de início de todas as nossas ações.

Uma vez que o behaviorista não faz distinção entre entidades mentais e comportamento, não é necessário usar termos que fazem referência à ideia de mente. Isso não significa que ele não estuda esses fenômenos que comumente chamamos de “mentais”. O termo comportamento é, para o behaviorista, mais abrangente. Grosso modo, podemos dizer que comportamento é tudo que uma pessoa faz: “pensar” é comportamento, “lembrar” é comportamento, “escutar” é comportamento, “prestar atenção” é comportamento, “sentir” é comportamento, “sonhar” é comportamento, etc.

Os mesmos conceitos que usamos para descrever e explicar comportamentos públicos, usamos também para descrever e explicar comportamentos privados. Pode-se dizer que o behaviorista se interessa só pelo comportamento, mas deve-se ter a consciência de que, para ele, comportamento é mais do que entendemos no senso comum, e que, para estudar o comportamento, é necessário investigar uma variedade de eventos que ocorrem dentro ou fora de nós.




Como dito anteriormente, o Behaviorismo Radical é a filosofia da ciência do comportamento. Essa ciência veio a ser chamada de Análise do Comportamento.

É importante tomar conhecimento deste termo, pois ele é o mais utilizado para nos referirmos aos conceitos, métodos e práticas da ciência do comportamento. É, portanto, a expressão que você irá encontrar nos nomes das associações, nos títulos de artigos, livros, revistas, cursos e outros eventos. Por exemplo, você não encontrará um psicólogo que trabalha com terapia behaviorista, mas encontrará terapeutas que trabalham com clínica analítico-comportamental.


Hoje, o Brasil tem a segunda maior comunidade de analistas do comportamento do mundo, perdendo só para os Estados Unidos. Aqui, as duas principais entidades que representam o grupo são a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) e a Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr).




O conhecimento derivado das pesquisas em Análise do Comportamento pode ser aplicado para produzir soluções em diferentes espaços: na clínica psicoterapêutica, em escolas, nas organizações, em práticas culturais etc. A essas atividades que fazem uso de tecnologias comportamentais chamamos de Análise do Comportamento Aplicada, ou ABA (do inglês Applied Behavior Analysis).

A aplicação da Análise do Comportamento tem sido bastante reconhecida nos últimos anos pelos resultados alcançados no trabalho com indivíduos autistas. No Brasil, popularizou-se o termo “método ABA” que, infelizmente, tem sido reproduzido de forma equivocada por profissionais que não dominam os métodos e conceitos da Análise do Comportamento.




O behaviorismo é equivocadamente acusado de estar associado à ideia segundo a qual "todo comportamento é aprendido". O homem, nesta concepção, é uma folha em branco, a tabula rasa — expressão utilizada pelo filósofo inglês John Locke (1632 – 1704) e que se referia ao entendimento dos filósofos empiristas de que as pessoas nascem sem conhecimento algum, e toda forma de pensar, conhecer e se comportar são aprendidas através das experiências do indivíduo ao longo da vida.

Embora os primeiros behavioristas tenham feito afirmações exageradas sobre o que pode ser aprendido, o behaviorista radical é totalmente contrário à ideia de que somos folhas em branco. Para ele, o comportamento é um misto: cada pessoa é um ponto em que múltiplas condições genéticas e ambientais se reúnem num efeito conjunto. O organismo é dotado de padrões de comportamentos inatos baseados em sua dotação genética e de uma estrutura que o torna apto a adaptar seu comportamento às novas condições do ambiente, ou seja, aprender.




Os comportamentos inatos representam mecanismos biológicos pré-ajustados que determinam padrões de respostas que são manifestadas frente a estímulos específicos. Dessa forma, quando ferido ou ameaçado, um organismo provavelmente atacará batendo ou mordendo; ou quando receber um estímulo visual do que representa possivelmente um predador, o organismo terá reações de luta ou fuga. Esses são exemplos de respostas comportamentais determinadas pela dotação genética do organismo. A teoria da seleção natural apresentada por Charles Darwin é uma ideia fundamental na compreensão de como estes comportamentos evoluíram e passaram a constituir a genética da espécie.

A relação entre um comportamento subjacente à fisiologia e um estímulo é chamado de reflexo, fenômeno que foi objeto predominante dos estudo dos primeiros behavioristas. A pesquisa de Skinner dá continuidade aos estudos do behaviorismo clássico e a sequência de seu trabalho leva-o a elaborar um novo conceito, de outro tipo de relação entre organismo e ambiente: o comportamento operante.

A ideia de Darwin de variação e seleção é tomada por Skinner para fundamentar sua teoria de “seleção do comportamento pelas suas consequências”.

Todo indivíduo age no mundo (comporta-se). Suas ações produzem alterações no ambiente (consequências). Essas consequências, por sua vez, retroagem sobre o sujeito, alterando a probabilidade de ocorrência desse comportamento em situações semelhantes no futuro.

Para Skinner, o comportamento de uma pessoa é determinado tanto pela história evolutiva da espécie (filogenética), quanto pela história de vida particular de cada pessoa (ontogenética).




O behaviorismo é frequentemente rotulado como uma abordagem “ambientalista” — ou seja, que atribui exclusivamente ao ambiente a formação do conhecimento e dos comportamentos. Nessa perspectiva, o homem seria um objeto “passivo”, mero reflexo de determinações externas a ele.

Tal afirmação é equivocada. Como dito anteriormente, o analista do comportamento estuda as interações entre o organismo e os eventos do ambiente. O behaviorismo é uma abordagem interacionista.

De fato, os primeiros behavioristas deram mais ênfase à resposta dos organismos, ou seja, à reação do organismo frente a estímulos do ambiente. O conceito de comportamento operante de Skinner inverte os termos: o ponto de partida é a ação do sujeito sobre o mundo e as consequências que essa ação produz.

O homem é um agente ativo que transforma o mundo, e que, por sua vez, é transformado em função das consequências de suas ações.

O homem constrói o mundo a sua volta, agindo sobre ele e, ao fazê-lo, está também se construindo. Não se absolutiza nem o homem, nem o mundo. Nenhum dos elementos da relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção de que os fenômenos tenham uma existência por si mesmo, e a noção de uma natureza, humana ou não, estática, já dada. Apropria relação não é estática, não supõe meras adições ou subtrações, não supõe uma causalidade mecânica. A cada relação obtém-se, como produto, um ambiente e um homem diferentes.” (Micheletto e Sério, 1993)




Behaviorismo não é uma abordagem pedagógica. O behaviorismo também não é um método de ensino (muito menos o “método tradicional de ensino” — na verdade, a maioria dos behavioristas são críticos da escola tradicional).

Behaviorismo é a filosofia que fundamenta a ciência Análise do Comportamento. Ambas fazem parte de um conjunto teórico que provoca reflexões e oferece estratégias de transformação para todas as práticas culturais, incluindo a educação.

As implicações do behaviorismo e as aplicações do conhecimento analítico-comportamental na educação podem se dar em diferentes esferas: filosofia da educação, políticas educacionais, organização institucional, planejamento curricular, formação de professores, cultura escolar, habilidades sociais, alfabetização, práticas do educador em sala de aula, etc.

Skinner colocou diversas questões sobre a educação. O que é aprender? O que é ensinar? Qual o papel da instituição escola na sociedade? Por que os alunos vão à escola? Como eles aprendem? Qual é o papel do professor?…

Em seu livro Tecnologia do Ensino, ele afirma:


“Precisamos compreender melhor não só os alunos, mas também os que ensinam, o que administram as escolas, os que estabelecem políticas educacionais, os que se empenham em pesquisas pedagógicas e todos aqueles que mantêm os sistemas de educação.”

De forma geral, em relação às práticas em sala de aula, podemos apontar resumidamente algumas implicações da Análise do Comportamento:


#1. O aluno deve ser ativo: só se aprende agindo no mundo;
#2. O ensino deve ser planejado de forma que os alunos evoluam progressivamente;
#3. Cada aluno é singular: sugere-se um programa de ensino individualizado;
#4. Todo aluno é, de uma forma ou de outra, capaz de aprender;
#5. O aluno deve se sentir encorajado a aprender;
#6. O professor deve planejar um conteúdo que favoreça o aprendizado do aluno;
#7. Resultados ruins em avaliações sugerem que o educador deve rever seus procedimentos de ensino.

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