Você já ouviu esses termos e, muito provavelmente, já usou!
Mas você sabe realmente o que eles significam? Sabia que a maioria das pessoas entendem esses conceitos de forma ERRADA?
O problema é maior porque os próprios professores universitários, que não são da área de psicologia comportamental, acabam ensinando esses conceitos de forma errada.
Reforço, positivo ou negativo, é um dos conceitos da psicologia comportamental que foi apropriado pelo senso comum de forma um tanto equivocada. Os termos ganharam um significado diferente do seu significado original dentro da ciência do comportamento.
Positivo é comumente entendido como algo “bom”, e negativo como “ruim”. Mas, do ponto de vista científico, o significado desses conceitos é outro.
Na escola, por exemplo, reforço positivo é entendido como “elogiar o aluno”, e reforço negativo como “repreender ou depreciar o aluno”. Embora esses eventos possam fazer parte do processo que chamamos de reforço, isolados eles não podem ser interpretados como tal.
Vamos entender o que é reforço positivo e reforço negativo abaixo...
Vamos entender o que é reforço positivo e reforço negativo abaixo...
1. Comportamento operante no behaviorismo
Para entendermos o significado desses conceitos, precisamos inseri-los dentro do quadro teórico da Análise do Comportamento (ou Behaviorismo).
Um dos princípios fundamentais da ciência do comportamento é o reconhecimento de que muitos dos nossos comportamentos são modificados por suas consequências.
Nossos comportamentos produzem consequências no mundo, e são essas consequências que vão determinar a probabilidade desse comportamento ocorrer novamente em situações semelhantes no futuro. Ou seja, as consequências determinam a frequência do comportamento.
Figura 1. O comportamento (B) produz consequências (C) e essas consequências determinam a probabilidade da ocorrência (frequência) desse comportamento em situações futuras. |
Esses comportamentos são chamados de “comportamentos operantes”, e a modificação desses comportamentos é chamada de “aprendizagem ou condicionamento operante” ou “aprendizagem pelas consequências”.
A maior parte do nosso comportamento é do tipo operante. Estamos o tempo todo agindo no mundo, e as consequências de nossas ações estão determinando se continuamos a agir ou não dessa maneira.
Comportamento
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Consequência
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Ligar aparelho de ar condicionado
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Diminuição da temperatura ambiente
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Pedir: “um copo d’água, por favor!”
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Receber um copo de água
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Mentir estar com dor de cabeça
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Mãe deixa faltar à aula
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Apertar “A” no teclado
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Aparece a letra “A” na tela do aparelho
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Abrir o guarda-chuva
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Não ser atingido pelos pingos d’água
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Fazer uma pergunta durante a aula
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Ser chamado de “burro”
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Dar sinal ao visualizar um ônibus
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O ônibus para
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Dizer “bom dia!” a alguém
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Receber um cumprimento em resposta
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Ligar interruptor
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Luz acende
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Fazer “birra”
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Receber atenção dos pais
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Tocar um fio desencapado
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Tomar choque
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2. As consequências do comportamento
Dissemos acima que a frequência do comportamento (ou a probabilidade do comportamento ocorrer) é “controlada”, ou determinada, pelas suas consequências.
Vamos dar um exemplo!
Vamos dar um exemplo!
Considere a seguinte situação: Roberto gosta muito de um biscoito da marca X. Recentemente ele se mudou e não sabe onde encontrar o produto na nova cidade. Ele vai a diversos estabelecimentos a procura do biscoito (sim, biscoito, não bolacha!).
Situação
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Comportamento
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Consequência
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Vontade de comer biscoito X.
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Ir até a loja 1
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Não encontrou biscoito X
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Ir até a loja 2
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Não encontrou biscoito X
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Ir até a loja 3
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Não encontrou biscoito X
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Ir até a loja 4
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Não encontrou biscoito X
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Ir até a loja 5
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Encontrou biscoito X
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Nessa situação hipotética, podemos dizer que, como Roberto encontrou o biscoito da marca X na loja 5, é mais provável que, na próxima vez em que ele estiver com vontade de comer o biscoito, ele se dirija até a loja 5.
Podemos dizer também que, como efeito da consequência "encontrar o biscoito", o comportamento de ir até a loja 5 se tornou mais frequente do que o comportamento de ir até às outras lojas.
3. O que é Reforço ou Punição?
Uma consequência pode controlar um comportamento aumentando ou diminuindo a probabilidade de sua ocorrência. Quando uma consequência aumenta a probabilidade de um comportamento, chamamos essa consequência de reforçadora, porque ela tornou a probabilidade “mais forte”.
Como no exemplo acima, o comportamento de Roberto ir à loja 5 foi reforçado.
Reforço é o processo em que a ocorrência de um comportamento
é fortalecida por uma consequência que segue de sua ocorrência.
Quando, por outro lado, a consequência diminui a probabilidade de um comportamento, chamamos o processo de punição. Por exemplo: considere que nas vezes seguintes em que Roberto foi comprar o biscoito na loja 5, o produto estava estragado. Esse evento fez com que a probabilidade dele ir até a loja 5 diminuísse, ou se tornasse mais fraca.
Punição é o processo em que a ocorrência de um comportamento
é enfraquecida por uma consequência que segue de sua ocorrência.
As consequências de um comportamento controlam a frequência desse comportamento, aumentando ou diminuindo a probabilidade de sua ocorrência. |
Não confunda!
Apesar do termo “punição” carregar, no senso comum, o sentido de um evento nocivo ou que causa sofrimento, devemos aqui considerar apenas seu significado científico, que é: diminuição da frequência de um comportamento.
Se, num exemplo hipotético, Joãozinho sempre leva uma surra do pai (consequência) quando desobedece (comportamento), e essa consequência (surra) não diminuir a probabilidade de Joãozinho se comportar assim (desobedecer), então não podemos considerar a surra como punição no sentido científico, ainda que seja uma punição no sentido popular.
4. Reforço Positivo não é sinônimo de “Elogio”
Veja que acima me referi apenas aos termos reforço e punição, e não fiz referência a negativo ou positivo.
Os termos "positivo" e "negativo" são popularmente entendidos como se houvesse algum valor moral ou qualitativo de bom ou ruim, respectivamente. “Reforço negativo” também é popularmente entendido como sinônimo de “punição”. Esses entendimentos estão errados!
Veja o exemplo abaixo:
Imagine a situação em que o aluno Miguel não conseguiu resolver uma tarefa de matemática, e a reação da professora é uma das seguintes:
a) Que pena que você não conseguiu resolver a questão. Mas na próxima vez você vai conseguir porque você é um menino inteligente.
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b) Você é burro mesmo! Como não conseguiu resolver essa questão fácil? Não aprende nada!
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Muito provavelmente alguém diria que a primeira colocação (a) é um exemplo em que Miguel foi reforçado positivamente, porque a professora foi agradável e bondosa elogiando a inteligência do aluno; e que (b) é um exemplo de reforço negativo, porque a professora agiu com truculência, destacando adjetivos pejorativos como “burro”.
Mas, se formos aplicar os conceitos científicos da análise do comportamento, não há nada nesses exemplos que permita que a gente classifique a atitude da professora como reforço positivo ou negativo, nem como punição, positiva ou negativa.
Primeiro, lembre-se que “reforço” fortalece um comportamento e não a pessoa. É errado dizermos que “Miguel foi reforçado”. O correto é dizermos que o comportamento x de Miguel foi ou não reforçado.
Segundo, reforço é sempre uma relação em que uma consequência aumenta a probabilidade de um comportamento. No exemplo acima, em “a” e em “b” não temos a informação se houve aumento da frequência do comportamento de Miguel (aliás, se Miguel errou a questão, então é sensato dizermos que não queremos reforçar esse comportamento). Não podemos, portanto, nomear a atitude da professora como reforço, seja positivo ou negativo.
Uma consequência só pode ser chamada de reforço se, e somente se,
ela aumentar a probabilidade de um comportamento!
ela aumentar a probabilidade de um comportamento!
“Elogiar o aluno” só pode ser visto como reforço positivo se o elogio é consequência de um comportamento da criança e se ele aumentar a probabilidade desse comportamento ocorrer.
5. O que é Positivo ou Negativo?
Os termos positivo e negativo são usados para se referir a presença ou ausência de estímulos, e não a valores qualitativos de bom ou ruim. O termo "positivo" tem mais a ver com seu significado matemático de acréscimo ou adição, e o termo "negativo" com ausência ou subtração.
Quando, como consequência do comportamento, é acrescentado algo, chamamos de positivo; quando é retirado, chamamos de negativo.
a) Reforço positivo é o aumento da frequência de um comportamento pelo acréscimo de alguma coisa como consequência desse comportamento — antes do comportamento essa coisa não está presente, mas depois da ocorrência do comportamento, essa coisa é apresentada ou adicionada à situação.
b) Reforço negativo é o aumento da frequência de um comportamento pela ausência ou retirada de alguma coisa como consequência do comportamento — antes do comportamento essa coisa está presente, mas com a ocorrência do comportamento ela é retirada, ou a ocorrência do comportamento impede que essa coisa seja adicionada.
O evento “depreciar o aluno” só faz parte de um processo de reforço negativo se a ausência ou retirada da depreciação é consequência de um comportamento da criança e se ele aumentar a probabilidade desse comportamento ocorrer.
c) Punição positiva é a diminuição da frequência de um comportamento pelo acréscimo de alguma coisa como consequência desse comportamento — antes do comportamento essa coisa não está presente, mas depois da ocorrência do comportamento, essa coisa é apresentada ou adicionada à situação.
d) Punição negativa é a diminuição da frequência de um comportamento pela ausência ou retirada de alguma coisa como consequência do comportamento — antes do comportamento essa coisa está presente, mas com a ocorrência do comportamento ela é retirada, ou a ocorrência do comportamento impede que essa coisa seja adicionada.
6. Exemplos
Abaixo são descritos alguns exemplos de comportamentos operantes, modificados por suas consequências, por reforço ou punição.
Comportamento
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Consequência
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Efeito
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No shopping, Pedro grita e se joga no chão, insistindo para os pais comprarem um boneco na loja de brinquedos.
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Os pais compram o boneco que Pedro queria.
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Aumenta a probabilidade de Pedro fazer birra quando ele quiser um brinquedo.
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Beatriz finge estar com dor de cabeça na hora de fazer a lição de casa.
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Seus pais permitem que ela vá para cama sem fazer a lição.
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Aumenta probabilidade de Beatriz dizer estar com dor de cabeça para escapar da lição de casa.
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Temos acima dois exemplos de reforço, já que nas duas situações houve um aumento da probabilidade de ocorrência do comportamento. No primeiro caso temos um exemplo de reforço positivo, pois algo é acrescentado (o boneco); no segundo, temos um exemplo de reforço negativo, pois algo é retirado ou evitado (a lição de casa).
Comportamento
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Consequência
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Efeito
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Beto diz para Carlos passar as resposta das questões da prova para ele, se não vai “pegar” ele na saída.
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Carlos passa a cola.
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Aumenta a probabilidade de Beto ameaçar Carlos quando quiser algo.
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Carlos passa a cola.
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Beto não agride Carlos.
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Aumenta probabilidade de Carlos passar cola para Beto para evitar ser hostilizado.
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Acima temos um exemplo de reforço positivo e um exemplo de reforço negativo em sala de aula. Nos exemplos são descritos os comportamentos de dois alunos na mesma situação. O comportamento de Beto é reforçado positivamente, e o comportamento de Carlos é reforçado negativamente.
Comportamento
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Consequência
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Efeito
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Aluno faz bagunça em sala de aula.
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Aluno recebe uma advertência e é ameaçado de ser suspenso na próxima vez que se comportar assim.
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Diminui a probabilidade de o aluno fazer bagunça.
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Aluno faz bagunça em sala de aula.
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Não é permitido ao aluno ir para o pátio brincar no recreio.
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Diminui a probabilidade de o aluno fazer bagunça.
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Acima temos dois exemplos de punição na escola, pois em ambas as situações há diminuição da ocorrência do comportamento. Entretanto, na primeira situação há um exemplo de punição positiva, pois algo é acrescentado (advertência e ameaça); na segunda situação há um exemplo de punição negativa, pois algo é retirado (o direito de brincar no pátio durante o recreio).
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