por Eduardo de Rezende
CID é o Código Internacional de Doença: um catálogo internacional onde são registrados diversas doenças. Neste catálogo, cada doença ou transtorno recebe um código.
O código F90 dentro da CID se refere ao Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (conhecido pela sigla TDAH ou também pelo termo transtorno hipercinético).
Nos textos médicos é comum nos depararmos com diferentes termos para se referir à categoria diagnóstica do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Essa variedade de siglas pode ser motivo de confusão para o público leigo.
Afinal, qual é a sigla certa: é TDA, DDA, TDAH, TDA com ou sem H?
- O médico do meu filho escreveu no laudo: "CID F90". Afinal o que significa isso?
CID é o Código Internacional de Doença: um catálogo internacional onde são registrados diversas doenças. Neste catálogo, cada doença ou transtorno recebe um código.
O código F90 dentro da CID se refere ao Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (conhecido pela sigla TDAH ou também pelo termo transtorno hipercinético).
Afinal, qual é a sigla certa: é TDA, DDA, TDAH, TDA com ou sem H?
Todos os termos (ou siglas) estiveram em algum momento corretos. Entretanto, na nomenclatura médica atual são oficialmente reconhecidos os termos TDAH (DSM-V, 314) ou transtorno hipercinético (CID-10, F90). TDA ou DDA são termos desatualizados.
Veja o quadro resumido no final do texto!
Primeiro, temos que lembrar que os nomes de doenças, síndromes, transtornos mentais e do comportamento são rótulos que variam ao longo da história da medicina.
Atualmente, são dois os principais textos que usamos como referência para organizar, classificar, nomear e diagnosticar os transtornos:
1. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — DSM (da sigla em ingês de Diagnostic and Statistical Manual), que atualmente está em sua 5ª edição, DSM-V;
2. A Classificação Internacional de Doenças — CID, atualmente em sua décima edição, CID-10.
Na história do desenvolvimento do conceito de TDAH, foram vários os nomes apresentados em artigos e manuais.
Para saber mais sobre a história do conceito do TDAH, leia: A história do TDAH que você não conhecia.
A primeira descrição do transtorno foi feita pelo médico inglês George Still, em 1902. Por isso, o transtorno ficou conhecido também como Doença de Still, ou "defeito do controle moral", segundo as palavras do médico. Em 1932, os médicos alemães Franz Kramer e Hans Pollnow usaram o termo Doença hipercinética da infância.
O termo hipercinético é sinônimo de hiperatividade, ambos dizem respeito ao excesso (hiper-) de movimento (-cinético / -atividade). Você se lembra das aulas de física? Energia cinética: aquela que está relacionada com o estado de "movimento" de um corpo.
A inclusão do transtorno no DSM
Quando foi incluído pela primeira vez no DSM, na 2ª edição de 1968, o transtorno apareceu com o nome de Reação hipercinética da infância. Já em 1980, no DSM-III, foi renomeado para Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) com ou sem hiperatividade. Nessa época, a CID-9 utilizava o nome síndrome hipercinética.
Veja que no original, em inglês, o transtorno foi denominado de Attention Deficit Disorder. O termo “disorder” pode ser traduzido para o português como transtorno ou como distúrbio. Por isso, há traduções onde encontramos o termo Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) e outras onde encontramos Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). Ambos os termos se referem à mesma categoria.
Nessa classificação do DSM-III de 1980, estavam incluídos dois tipos diferentes do transtorno: Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDA + H) e Transtorno do Déficit de Atenção sem Hiperatividade (só TDA, sem H). Para os teóricos da época, a hiperatividade não era uma característica essencial do transtorno. A ênfase foi deslocada para a desatenção, que podia ocorrer com ou sem hiperatividade.
Entretanto, quando o DSM-III foi revisado, em 1987, não havia evidências científicas de que os dois tipos deveriam ser considerados como duas categorias distintas. Logo, a formulação dos dois subtipos foi removida e a categoria foi renomeada para Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade.
Desde 1987, portanto, TDA (ou DDA), TDA com H e TDA sem H são termos desatualizados.
TDAH a partir de 1994
Em 1994, com a publicação do DSM-IV, reconheceu-se que o TDAH podia se manifestar com a predominância de uma das características ou de forma combinada. Assim, a classificação do transtorno passou a ser apresentada com três subtipos:
1. TDAH predominantemente desatento
2. TDAH predominantemente hiperativo/impulsivo
3. TDAH combinado (desatenção + hiperatividade/impulsividade)
Veja que, diferente da classificação do DSM-III, não há distinção entre com ou sem hiperatividade. Todas as apresentações são denominadas TDAH, apenas dá-se ênfase para a predominância de uma ou outra característica. Essa classificação foi mantida na atual edição do DSM, publicada em 2013 (DSM-V).
A edição atual da Classificação Internacional de Doenças, CID-10 de 1993, manteve a nomenclatura de Transtornos hipercinéticos para um grupo de transtornos que inclui a Perturbação da atividade e atenção e outro tipo quando há associação com comportamentos antissociais, denominado Transtorno de conduta hipercinética. Comumente, os diagnósticos desse grupo com base na CID-10 se resumem a Transtornos hipercinéticos.
Veja o quadro resumido:
Ano
|
Manual
|
Nome
|
1968
|
DSM-II
|
Reação hipercinética da infância
|
1980
|
DSM-III
|
TDA (ou DDA) com ou sem H
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1987
|
DSM-III-R
|
TDAH
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1994
até hoje
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DSM-IV
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TDAH com três subtipos:
- combinado
- predominantemente desatento
- predominantemente hiperativo/ impulsivo
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DSM-IV-TR
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DSM-V
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CID-10
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Transtornos hipercinéticos (F90)
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