Há alguns anos circula na internet a notícia de que o médico que inventou o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) revelou, meses antes de falecer, que o transtorno era uma doença inventada, uma farsa, uma mentira!
O médico mencionado é o psiquiatra norte-americano Leon Eisenberg (1922 – 2009). Ele teria feito a confissão durante uma entrevista para a revista alemã Der Spiegel.
Leon Eisenberg: "Pai do tdah declara-se mentiroso?" |
O TDAH não existe? Seria o transtorno uma mentira: uma doença inventada?
A verdade é que essa notícia é enganosa!
A entrevista com o Dr. Eisenberg de fato aconteceu. Mas a maneira como as palavras do psiquiatra e o texto da reportagem da revista foram difundidos pelas redes sociais está totalmente equivocada.
Eisenberg confessou que a doença é uma farsa? Vamos aos fatos:
1) O Dr. Leon Eisenberg não é o pai ou inventor do TDAH. O transtorno tem sido descrito há mais de um século (ver aqui a história do TDAH), época em que Leon Eisenberg sequer havia nascido.O texto da revista se refere ao doutor como “pai científico” (wissenschaftliche Vater, no original em alemão) porque Eisenberg contribui muito com o desenvolvimento dos conceitos modernos dos transtornos de comportamento e também na divulgação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
2) Em nenhum momento Eisenberg disse que o TDAH não existe, mas sim que o transtorno tem sido descrito e diagnosticado de forma equivocada, em situações onde os comportamentos problemas são, na verdade, consequência das vivências sociais da criança, ou seja "fabricado" pelo meio. A reportagem da revista apresentava uma crítica contra a prescrição exagerada de medicamentos e diagnósticos duvidosos. A fala do Dr. Eisenberg foi incluída na reportagem para fundamentar essa crítica.
Eisenberg confessa que doença é uma farsa?
Não! A reportagem da revista apresentava uma crítica ao excesso de uso de medicamentos e aos diagnósticos exagerados de TDAH em todo o mundo. Na entrevista, Leon Eisenberg reconhecia que muitos dos comportamentos que hoje são equivocadamente diagnosticados como TDAH são, na verdade, “fabricados” pelo ambiente social onde a criança vive. Para ele, esses comportamentos não podem ser vistos como causados “pela genética” e que os “fatores sociais” devem também ser considerados.
Ou seja, não era uma revelação de que que o TDAH foi "fabricado", mas uma crítica aos diagnósticos exagerados quando, em muitas situações, o comportamento era fabricado pelo ambiente social.